Nos 50 anos da Epagri, pesquisa é destaque ao transformar o Brasil de importador a exportador de maçã
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Se hoje podemos saborear uma maçã produzida em terras brasileiras, isso se deve muito ao trabalho de pesquisa da Epagri. A empresa pública do Governo de Santa Catarina, vinculada à Secretaria de Estado da Agricultura e Pecuária, é responsável pelo maior programa de melhoramento genético da fruta no país, além de ser protagonista em diversas pesquisas para o desenvolvimento de tecnologias de produção que são essenciais na matriz produtiva da maçã nos dias atuais.
Até a década de 1980, o Brasil dependia da importação da variedade Red Delicious, muito conhecida como “maçã argentina”. Foi naquela época que o país começou a produzir a fruta comercialmente, mas foi no final dos anos de 1990 que atingiu a autossuficiência na produção de maçãs de alta qualidade e então passou a exportar. Quase toda a produção de maçãs brasileiras se concentra em Santa Catarina e Rio Grande do Sul, estados com o clima frio, que é necessário para que as macieiras consigam produzir flores e frutos.
Por trás de toda essa história, existe o trabalho de pesquisa da Epagri. Em 2025 a Empresa celebra um marco histórico: 50 anos de pesquisa agropecuária em Santa Catarina. A data é comemorada por conta da criação, em 1975, da Empresa Catarinense de Pesquisa Agropecuária – a Empasc. Esta instituição se fundiu a outras empresas públicas catarinenses e deu origem à Epagri, em 1991. Desde então, a Epagri tem levado adiante a missão de gerar e difundir conhecimento para fortalecer o agronegócio do Estado, como é o caso da maçã.
Como tudo começou
Até meados do século 20, a maçã consumida no Brasil vinha principalmente da Argentina. O clima e a falta de variedades adaptadas faziam parecer improvável que o país pudesse produzir a fruta em escala comercial. Isso começou a mudar em 1968, com a criação, pelo governo de Santa Catarina, do Projeto de Fruticultura de Clima Temperado (Profit) – Lei n°4.263, aliado à política de incentivos fiscais federais que estimularam o plantio de pomares.

Ciência em Santa Catarina
De acordo com o pesquisador em melhoramento genético de macieira da Estação Experimental da Epagri em Caçador, Marcus Vinicius Kvitschal, um dos grandes trunfos da pesquisa foi a introdução de mais de 500 variedades do exterior e avaliação do potencial de adaptação dessas variedades em solo catarinense. Desse trabalho surgiram as variedades Fuji – originária do Japão e Gala – originária da Nova Zelândia, que se tornaram as mais produzidas no País.

A ciência da Epagri foi ainda mais além, desenvolvendo tecnologia capaz de compensar a falta de frio para as plantas de macieira advindas do exterior, pois a quantidade de frio disponível mesmo no Sul do Brasil é insuficiente para que a planta tenha um período de repouso (dormência) adequado. “Sem essa tecnologia de indução da brotação nessas plantas, por exemplo, não seria possível ao Brasil produzir mais de um milhão de toneladas da fruta anualmente”, ressalta o pesquisador.

O reconhecimento da Indicação Geográfica (IG) da maçã Fuji da Regição de São Joaquim reforça esse diferencial e coloca a fruta catarinense entre as de melhor qualidade do mundo. Três variedades desenvolvidas pela Epagri, identificadas com a marca Sambóa, também são cultivadas em outros países e vem conquistando o paladar dos consumidores estrangeiros.

De acordo com dados da Epagri/Cepa, o Brasil atingiu a autossuficiência em maçãs em 1998, quando as exportações superaram as importações pela primeira vez. Dados da da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) colocam o País como 12º maior produtor mundial da fruta, responsável por cerca de 1,2% da produção global. Os principais destinos da maçã brasileira estão na América Latina e no Oriente Médio, consolidando a presença do País em mercados exigentes.

Conforme o Observatório Agro Catarinense, na safra 2024/25, o estado produziu mais de 482,2 mil toneladas, com destaque para as variedades ‘Gala’ (40,7% da produção estadual) e ‘Fuji’ (57,3%). Em 2023, o valor bruto da produção catarinense alcançou R$63,98 milhões: o valor da produção de maçã representou 1,7%, com R$1,09 bilhões. O Meio Oeste e o Planalto Sul concentram a maior parte dos pomares, confirmando a importância econômica e social da cultura nessas regiões.
Fruta que gera empregos
A maçã transformou cidades como Fraiburgo, no Meio-Oeste catarinense, e São Joaquim, no Planalto Serrano. Em Fraiburgo, os pomares de perfil mais empresarial modernizaram a fruticultura catarinense. Já em São Joaquim, pequenos produtores organizados em cooperativas deram vida a uma agricultura familiar pujante e inovadora.

Pesquisas para o amanhã
Para Marcus Vinicius, o futuro das pesquisas com maçã no Brasil é ao mesmo tempo desafiador e estratégico. “Foi graças à pesquisa que o país alcançou a autossuficiência na produção e passou a exportar, consolidando-se como um mercado competitivo. Hoje, porém, o setor enfrenta um cenário de grande vulnerabilidade. De um lado, o cultivo das variedades Gala e Fuji vem sendo constantemente aprimorado, com foco em produtividade e qualidade. De outro, praticamente toda a produção nacional está concentrada nessas duas variedades, o que gera uma série de dificuldades de adaptação ao clima tropical e subtropical. Essa limitação genética torna a cultura mais suscetível a perdas diante de variações climáticas, pragas e oscilações de mercado”, explica o pesquisador.

Segundo Marcus Vinicius, daqui para frente, a pesquisa precisa atuar de forma ainda mais inovadora e direcionada. “É preciso diversificar a produção. É fundamental desenvolver cultivares adaptados às condições brasileiras, como a Epagri já vem fazendo, e assim reduzir a dependência econômica de poucas variedades”, diz ele. Outros avanços dizem respeito ao manejo, resistência biológica e tecnologias climáticas, que permitirão ao setor minimizar riscos e garantir sustentabilidade, competitividade e crescimento contínuo da maçã brasileira no mercado interno e externo.

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