Abuso de antimicrobianos na pandemia pode ter agravado resistência a bactérias, aponta estudo

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Durante os anos de pandemia (2020-2023), mais de 68 milhões de unidades de antibióticos foram vendidas no Brasil, considerando a variedade dos protocolos implementados para o tratamento empírico da Covid-19. O cenário impulsionou um estudo relacionando dados sobre o abusos de antimicrobianos ao aumento da resistência bacteriana no Brasil, idealizado pela farmacêutica ambiental, microbiologista e doutoranda em Saúde Pública e Meio Ambiente na ENSP/Fiocruz, Líllian Silva. As informações foram divulgadas pelo Conselho Federal de Farmácia (CFF).
A pesquisa analisou o aumento na venda de medicamentos que fizeram parte do chamado "Kit Covid", como a azitromicina, ivermectina e cloroquina, com base nos dados do Sistema Nacional de Gerenciamento de Produtos Controlados (SNGPC), nos triênios pré-pandemia (2017 a 2019) e pós-pandemia (2020 a 2022).
A pesquisadora ressalta que o uso indiscriminado de antimicrobianos pode favorecer a seleção de bactérias resistentes ao tratamento, gerando um problema para a saúde pública.
"Além dos antibióticos propriamente ditos, a cloroquina tem uma estrutura semelhante a uma classe de antibióticos muito usada no tratamento de infecções urinárias: as fluoroquinolonas, como a ciprofloxacina. Já a ivermectina se assemelha ao grupo da azitromicina. Para as bactérias, a exposição a esses medicamentos é como um gatilho para produzir mecanismos de defesa", explica Líllian.
Outra preocupação discutida no estudo é em relação à introdução desses fármacos em ambientes aquáticos, como rios, oceanos e lagoas. A falta do saneamento básico e o tratamento inadequado da água e do esgoto podem ajudar na disseminação das superbacterias, já que as tecnologias de tratamento de águas residuais usadas, não são capazes de eliminar completamente esses contaminantes.
"A perspectiva de uma crise sanitária relacionada às bactérias resistentes é real e silenciosa, mas que precisa receber a devida atenção para que possamos tentar contornar a situação através do controle de prescrições e dispensação dos antibióticos", destaca a pesquisadora.
Ainda de acordo com a pesquisadora, nos próximos anos, o uso incorreto destes fármacos pode ser responsável por muitas mortes, já que não haverá mais tratamento eficaz disponível.
O monitoramento da venda de antimicrobianos pelo SNGPC não é apenas uma ferramenta de controle. É uma gestão estratégica para fiscalizar o consumo e propor políticas e metodologias para o uso racional de medicamentos.
Fonte: Oeste+

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