Joinville e Jaraguá do Sul estão entre as 10 cidades do Brasil mais afetadas pelo tarifaço

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Cinco dias após o início do tarifaço de 50%, aplicado pelo governo de Donald Trump aos produtos exportados pelo Brasil, duas cidades de Santa Catarina podem estar entre as 10 brasileiras mais afetadas. Jaraguá do Sul e Joinville configuram nas posições 6ª e 9ª no ranking.
O levantamento foi feito pelo jornal Estadão com base no Ministério do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) e levou em consideração os produtos, agora alvos do tarifaço, que mais foram exportados do Brasil aos Estados Unidos no ano passado.
Entre os produtos taxados estão café, carne bovina, frutas, produtos têxteis, calçados e móveis, por exemplo. A cidade que mais arrecadou com os EUA em 2024, e que agora é prejudicada pela imposição estadunidense, é Piracicaba (SP) que exportou um bilhão de dólares em caldeiras, máquinas e instrumentos mecânicos.
Entre as cidades de SC, Jaraguá do Sul apareceu na 6ª posição com a arrecadação de 245 mil dólares em máquinas, aparelhos e materiais elétricos; aparelhos de gravação ou de reprodução de som, imagens e de som em televisão, indica o levantamento do Estadão.
Depois, em 9º lugar está Joinville que exportou no ano passado 228 mil dólares em caldeiras, máquinas e instrumentos mecânicos. As duas cidades ainda aparecem em outras posições com a arrecadação de outros produtos.
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Ainda conforme o Estadão, as regiões Sul e Sudeste aparecem com mais frequência no ranking, sendo as que mais exportam aos EUA, ficando entre as mais afetadas pelo tarifaço. Entretanto, as regiões Norte e Nordeste são mais sensíveis às sanções estadunidenses por conta do baixo valor agregado e “forte peso social dos empregos” em setores têxteis, de pescado e frutas, por exemplo.
Além destes itens, no dia 30 de julho, o presidente Donald Trump assinou a ordem executiva que oficializa a imposição das tarifas adicionais. Uma lista de quase 700 produtos ficou isenta, entre eles aeronaves, suco de laranja, fertilizantes, madeira e outros. A medida foi encarada como uma “desidratação” do tarifaço e trouxe alívio a alguns segmentos econômicos brasileiros.
Movimentação das cidades catarinenses
Na quarta-feira (6), quando o tarifaço teve início, o secretário da Fazenda da Prefeitura de Joinville, Fernando Bade, representou o município em uma reunião da Frente Nacional de Prefeitas e Prefeitos (FNP) com o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços em Brasília.
No encontro, os prefeitos apresentaram medidas urgentes esperadas do Governo Federal para mitigar impactos decorrentes do tarifaço anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
— Realizamos um estudo de como as medidas poderiam impactar nossa cidade e fizemos contato com as principais empresas exportadoras para entender com mais detalhes os efeitos destas medidas. A partir disso, estamos levando nossos pleitos para buscar que as negociações em busca de redução das taxas possam ser alteradas ou que ações compensatórias sejam adotadas pelo Governo Federal, garantindo a manutenção ao máximo a geração de emprego e renda na cidade — afirma o secretário da Fazenda Fernando Bade.
Durante a reunião, Bade, que desde o anúncio do aumento das tarifas, está em contato com as indústrias de Joinville em trabalho conjunto com a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, apresentou demandas relevantes para reduzir o impacto das medidas em Joinville, cidade que destina 20% de suas exportações para os EUA. Os maiores exportadores da cidade para o país fornecem componentes automotivos (blocos de motores e peças) para a linha média/pesada e compressores.
Diante disto, o principal pleito levado por Joinville para o encontro foi a inclusão dos produtos automotivos de linha média/pesada na lista de exceções que já contemplou a linha leve. Também foi demandado que o Governo Federal incluir estes produtos na lista de exceções ou conceder 90 dias de prazo para seguir nas negociações.
Ainda na lista de demandas, a partir de conversas com as indústrias plásticas, Joinville reforçou que o principal pleito é a não adoção de medidas de retaliação e também a inclusão do setor nas políticas internas aplicadas como apoio a empresas impactadas. Pois, barreiras tarifárias como medida de retaliação, não só aumentariam o risco de escalada da guerra tarifária, como impactariam diretamente a indústria local com aumento dos insumos e preço do produto final.
Caso não tenha sucesso, o pleito é de que o Governo Federal forneça ações compensatórias temporárias pelo menos durante o prazo de negociações, como a retomada do Reintegra, desoneração imediata da folha de pagamento para setores exportadores intensivos em mão de obra e instituir Linha de Crédito Especial Subsidiada para incentivar exportações ao mercado estadunidense.
Já Jaraguá do Sul debateu de forma conjunta a implementação do Imposto sobre Bens e Serviços (IBS), que substituirá o ISS (Imposto Sobre Serviços) e o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), e o “tarifaço”. A Secretaria da Fazenda de Jaraguá do Sul se mobilizou para enfrentar os impactos orçamentários. Na última semana de julho, o secretário Tiago Coelho Przywitowiski reuniu os servidores do setor fiscal para discutir estratégias, capacitações e ações emergenciais que visam mitigar as perdas previstas para o município.
Durante a reunião, Coelho enfatizou que a lógica de arrecadação mudará significativamente, com a tributação sendo baseada no destino, onde se consomem as mercadorias, e não mais na origem da produção.
— Jaraguá é um município com forte base industrial, mas população relativamente menor. Isso nos coloca em posição vulnerável, pois a arrecadação será redistribuída com base no consumo e população local, e não mais onde os produtos são fabricados — alertou o secretário.
A taxação de 50% sobre os produtos brasileiros pelos EUA preocupa. De acordo com o secretário, em 2024, Jaraguá do Sul exportou mais de 1 bilhão de dólares, sendo 25% deste valor, para os EUA. Só a empresa WEG responde por 90% desse valor.
— Empresas podem diminuir empregos ou demitir. Além disso, há risco de efeito cascata, afetando prestadores de serviços locais e ampliando os prejuízos em toda a cadeia econômica da cidade — afirmou.
Nos próximos dias, o município vai continuar avaliando os prejuízos que podem ser causados pelo tarifaço.
Efeitos já são sentidos em SC
Pablo Felipe Bittencourt, economista-chefe da Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc), explica que os efeitos da medida já estão sendo sentidos no Estado, com diminuição dos pedidos e redução dos embarques por conta da expectativa negativa em relação à aplicação das tarifas. Ao longo dos próximos anos, a Fiesc prevê uma queda no PIB de Santa Catarina.
— Para o Estado, a estimativa que se tem é de uma perda de PIB em torno de 0,3% para o espaço de um ano e meio a dois anos, então é um impacto pronunciado numa economia que cresce mais ou menos 3,5%, 4% ao ano — pontua Pablo.
As tarifas devem ter um maior impacto em alguns setores econômicos específicos, como o de produtos de madeira e produtos de móveis, localizados nas regiões Norte, Nordeste e Serrana do Estado.
— Muitas empresas desse setor estão com problemas grandes, muitas delas estão em quase 100% da produção voltada para o mercado dos Estados Unidos. Eles atendem o mercado imobiliário, então você está tendo lá uma redução drástica de pedidos e eles não vão conseguir exportar — explica o economista-chefe da Fiesc.
Algumas empresas já estão demitindo ou dando férias coletivas para os trabalhadores, o que traz impactos para o encadeamento da produção e para todos os produtores que dependem das empresas exportadoras.
Outros setores citados entre os mais impactados estão os de máquinas, motores e geradores elétricos, compressores, motobombas, que terão tarifas adicionais de 50%, assim como carnes, mel, pescado.
— Grande parte da nossa produção de mel vai para exportação pros Estados Unidos, então a gente vai ter um impacto grande nesses produtores, que produzem essas regiões mais altas, em que o mel tem uma qualidade diferenciada — afirma.
Fonte: NSC

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